Com a entrada de Donald Trump a presidência dos
Estados Unidos, o que irá ocorrer nesta semana, na sexta-feira (20),
muitos são os fatores que poderão trazer mudanças para a economia
mundial.
O economista e professor do Insper, Roberto Dumas Damas, não acredita em
uma guerra cambial de imediato, portanto. Ele lembra que os chineses
estão mais conscientes, esperando os próximos acontecimentos que
seguirão após a posse de Trump. Ainda há um questionamento para saber
"até que ponto Trump está blefando?" e, se as medidas defendidas por ele
forem colocadas em prática, a China deve responder à altura. Com isso, o
governo chinês pode deixar o mercado trabalhar e gerar uma depreciação
cambial.
A situação, na avaliação do economista, é boa e ruim para o Brasil ao
mesmo tempo. Considerando a nação em geral e outros setores
exportadores, o cenário da balança comercial deve ficar pior. No
entanto, o agronegócio deverá se beneficiar nesse jogo, uma vez que a
China pretende estimular sua economia tomando o consumo como base.
Damas também critica a atitude prometida por Trump de protecionismo,
atuando contra as importações, uma vez que a maior parte dos americanos
se beneficia de um mercado que importa matéria-prima e faz produtos mais
baratos. Ele lembra que a política de substituição de importações
existia na década 70 e que "minorias organizadas prejudicam maiorias
desorganizadas", uma vez que as empresas norte-americanas teriam de se
rearranjar em toda a sua cadeia de suplementos. "Se a gente compra o
fator Trump a valor de face, eu não vejo nenhum momento positivo como um
todo para a economia mundial", diz.
Uma tarifa de importação sobre os produtos chineses por parte dos
Estados Unidos seria uma atitude que teria uma reação mais lenta na
China. Por outro lado, isso poderia ser um ponto positivo para a América
Latina, pois os chineses poderão especular um acordo de livre comércio
com o continente. "O Trump não arrefeceu nem um pouco o discurso dele,
mas o governo chinês não pode fazer nada de sopetão", aponta.
O interesse do governo chinês, na avaliação do economista, é rebalancear
o modelo econômico do país. A China sabe que não cresce mais por
exportação e nem por investimento. Logo, o consumo se tornou a chave da
vez como motor de uma economia em crescimento. Desta forma, é nesta
parte na qual o setor do agronegócio se beneficia, pois a demanda por
soft commodities tende a aumentar. Em termos de preço, é uma questão de
oferta e demanda, porém.
Para se equilibrar no cenário impulsionado por Trump, existe uma grande
possibilidade de o Brasil trabalhar com valor agregado nos produtos para
que as exportações, assim, aumentem e tragam maior firmeza para a
balança comercial dentro do país. Damas diz que "não é o Brasil que
vende para a China, é a China que compra para o Brasil" e constata que
falta uma ação mais agressiva de venda por parte dos brasileiros, que
chegam despreparados aos países asiáticos. Como base nos negócios
realizados pelos chineses, os brasileiros devem conhecer por meio de
contato prévio as empresas e pessoas com quem desejam negociar para, só
então, fazer contato pessoal para fechar negócio.
Ele defende que os frigoríficos cheguem na China e realizem um lobby por
lá. Um escritório de representação, na visão do economista, também
seria um bom ponto para aproveitar o momento que paira sobre o mercado.
"Não adianta achar que vai ser natural e que vai ter uma mudança de
oportunidade. Tem que ir atrás para fazer acontecer também", aconselha.
"O brasileiro está na hora de pensar na frase de Richard Nixon, follow
the money ( siga o dinheiro)".
Em um cenário contrário ao que pode acontecer em relação ao dólar e
demais moedas do mundo, o real, por sua vez, pode se valorizar por conta
de uma diminuição no Risco Brasil, com uma perspectiva de ajuste fiscal
à frente. Considerando o cenário atual, o economista acredita que a
tendência até o final do ano é que o real tende a apreciar, encerrando
2017 por volta de R$3,15 a R$3,17.
Damas ainda aconselha os produtores a tentar realizar uma venda de safra
futura para os chineses. "Ir para a China e se colocar pronto para
vender", diz. "Procurar potenciais compradores antes e travar o preço".
Ele destaca que os problemas de infraestrutura ainda assolam os
produtores, mas que os chineses vão precisar de alimentos e, aqui, eles
podem comprar. "Agora que os Estados Unidos voltou ao menos um século
atrás, o Brasil tem que aproveitar o apetite chinês", afirma.